quarta-feira, fevereiro 27, 2008

.incompletos desejos.



[Foto: Márcio Luiz. Fev-2008]


É que quando a chuva cai eu fico assim.

O problema é que tem chovido todos os dias incessantemente, dentro e fora.

As flores têm aguentado bem, mas a orquídea tem sofrido sem o sol.

...

Hoje fez sol. Um sol brilhante de bom dia, de céu azul claro.

Minha xícara amarela se quebrou assim que coloquei o café quente.

Um beijo com gosto de leite novo e morno passou por meus lábios antes de ir trabalhar.

...

Mas um dia sem esse cheiro. De terra molhada, de nuvem encharcada, de rosas despadaçadas.

Minha companhia é o que me ocorre, e o que me ocorre é só o poema do paraense Max Martins.

...A sua casa não é lugar de ficar, e sim lugar de onde ter de se ir (fragmento de A Cabana).

...

Do que fica? As fotos.

sábado, fevereiro 23, 2008

.flores na cabeça.

Benfica, Jan, 2008.

Foto: Márcio Luiz

Flores na cabeça,
pés descalços.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

[Foto: Biczone]
Sim: um homem com seu revolver passeava no seu jardim cheio de rosas. De repente ficou louco: pum, pum, pum, pum, pum, pum e enquanto as rosas caiam esfaceladas aos seus pés, ele gritava: uma rosa não é uma rosa, não é uma rosa, não é uma rosa, não é uma rosa.
Fragmento de "O Unicórnio", Fluxo-Floema, Hilda Hilst.


quinta-feira, fevereiro 07, 2008

...e o gosto de morangos mofados decidiu aparecer.
por que agora?
será que pra sempre? ou passageiro?
Persiste a cada golada, a cada água, a cada cerveja, a cada beijo.
Pra nem pra agora.
Pra nem pra sempre.
Pra nem pra ar.
Pra nem pra terra.
Pra nem, pra?
O pior são as cócegas do teu pescoço longo, dos teus braços tortos, dos teus lábios mortos.
O pior são as fendas dos lábios meus, dos traços finos, do laços do suspiro.
O pior são as repetições, o não-dia-a-dia-não.
Porra. Merda. Bosta. Porra.
Dia sim, dor de cabeça. Dia não, dor.
De cabeça não sigo, de boca o gosto. Dos morangos, o mofo. Do mofo do teu beijo, do sempre passageiro gosto do morangos no ar, aqui na terra nos goles dia sim, dia não. Por hora.

Obrigada. Caio.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

.lft.

[Foto: Milena Marília]




Nesta Pedra que Chora fui fazer uma

CONFISSÃO

- Fui me confessar ao mar.

- E o que ele disse?

- Nada.



Fragmento de "Pedra que Chora", Conspiração de Nuvens, Lygia Fagundes Telles.
"Tenho um nome de gente na minha condição de gato. Mas antes, quando eu era gente? Aquele é o menino da casa das venezianas verdes, alguém me apontou. Vou andando e olhando o carpete branco-azulado, será que ela vomitou? Há cinza de cigarro, peças de roupa, um copo tombado, manchado de vinho mas nenhum sinal de vômito. E o cheiro pairando no ar. Espantoso o laboratório que não descansa, o vinho perfumado acaba de descer e já começa a fermentação, tudo se transforma rapidamente na química humana. Para pior."

Lygia Fagundes Telles. Fragmento de "As Horas Nuas".