domingo, janeiro 13, 2008

.28 de Janeiro.



[São Luís by me]






28 de Janeiro



Hoje é dia de mudar de casa, de rua, de vida. As malas sufocam os corredores. Pelo chão restam plumas amassadas, restos de purpurina, frangalhos de echarpes indianas roubadas, pontas de cigarros.

(...)

Hoje é dia, mais uma vez, de mudar de casa e de vida. Os olhos buscam signos, avisos, o coração resiste (até quando?) e o rosto se banha de estrelas dormidas de ontem, estrelas vagabundas encontadas pelas latas de lixo abundantes de London, London, Babylon City. ALguém pergunta: "O que é que se diz quando se está precisando morrer?" Eu não digo nada, é a minha resposta.
(...)
Amanhã é dia de nascer de novo. Para outra morte. Hoje é dia de esperar que o verde deste quase fim de inverno aqueça os parques gelados, as ruas vazias, as mentes exaustas de bad trips. Hoje é dia de não tentar compreender absolutamente nada, não lançar âncoras para o futuro. Estamos encalhados sobre estas malas e tapetes com nossos vinte anos de amor desperdiçado, longe do país que não nos quis. Mas amanhã será quem sabe acerto as contas e Jesuzinho nos pagará todas as dívidas? Só que já não sei se ainda acredito nele.
(...)
Meu coração vai batendo devagar como uma borboleta suja sobre este jardim de trapos esgarçadosem cujas malhas se prendem e se perdem os restos coloridos da vida que se leva. Vida? Bem, seja lá o que for isto que temos...

Fragmento de "Lixo e Purpurina". Ovelhas Negras. C. F. A.