terça-feira, julho 24, 2007

Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer? Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias. Mas confuso, perdido, sozinho, minha única certeza é que de cada vez aumenta ainda mais minha necessidade de ti. Torna-se desesperada, urgente. Eu já não sei o que faço. Não sinto nenhuma alegria além de ti. Como pude cair assim nesse fundo poço? Quando foi que me desequilibrei? Não quero me afogar: Quero beber tua água. Não te negues, minha sede é clara.
(Extraído do livro Caio Fernando Abreu- Caio 3D, O Essencial da Década de 1980, p.186)

Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços se fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.
(Extraído do livro Caio Fernando Abreu- O Ovo Apunhalado, Poços, p.19)

p.s: Por isso que é bom ter primas conhecedores "dos caras" que são multi-uso e falam desde sociedade até amor de uma maneira que eu queria saber falar. Obrigada Caio! fale por mim, por nós, por todos.