sábado, abril 19, 2008

.O lento sorriso, o efêmero alface.

Foto: Milena Marília
Tabatinga-Brasil-Março-2008


Passa tudo tão lento agora. Os concretos estão escorrendo ao mesmo tempo que vejo as janelas, as casas, as janelas das casas, as senhoras nas janelas das casas, os netos das senhoras nas janelas das casas.

Uma saia então. Somente uma saia que caminha, percorre, se movimenta e a cada passo de concreto mais se dilui nos passos que lhe levam de volta.

Mais concreto. Foi ver o rio antes, para tentar amolecer. Já se acostumou. Se acostumbrou. Nem sempre é fácil, tem que sangrar as vezes. Se repete, a vezes. As vezes.

De companhias, músicas (?). Não entende essa angústia. Não há. Há dedos, nós, cervejas e doces.

Foi quando me pedistes pra passar um tempo mais, um pouco mais. Há mais.

Eu aceitei. De boba, de esperançosa, de inquieta, e impaciente.

Sentamos então. Palavras, palavras, palvras. Lembrei de fala, fala, fala pelas ruas da cidade com igrejas pela rua, lata de coca-cola onde a sujeira estava inerente e ausente.

Mas sem mofos dessa vez, sem sujeira, sem essa merda de seu sorriso.

Foi isso que fudeu, acho. Seu sorriso. Especificamente o resto de alface que estava preso entre o canino e o dente do lado que não lembro o nome. No momento que sorristes com algo, nem assim tão engraçado, que eu te disse.

Inversão, subversão. Cinema, cotidiano e televisão. Detalhes banais de vida rotineira. Detalhes sórdidos de vida em dias que não se sabe bem ao certo onde se está indo ou se chega.

Detalhes...

E sempre lembro que "detalhes tão pequenos de nós dois"; era essa bosta de música que tava tocando; o alface no seu dente por algo não tão engraçado que eu disse; e minha vontade desesperada de não querer mais que passe lento.

Passos rápidos, em lentidão. O lento sorriso, o efêmero alface.