quarta-feira, abril 02, 2008

.velocidade, 30.

Foto: Milena Marília

Contava as pedrinhas calmamente. A cada passo uma nova descoberta, uma nova forma, uma nova cor. Odeia o irreal. Sempre por toda sua vida de velocidade se depara com isso. Pessoas aparentes, roupas aparentes, costumes aparentes, cores aparentes. Nem nos olhos conseguia ver verdade. Nem nisso. Mas mesmo assim continuava a contar suas pedras, coloridas, pareciam reais do modo que seus pés lentamente passeam sobre cada ângulo bem moldado, bem feito, arredondado. Escuras-listradas, brancas-boleadas, cinzas-pintadas, vermelhas-achatadas.
Não ousava escolher uma para levar consigo.
Seus pés que a levavam sobre as pedras, dançavam todo tempo cambalentes e equilibristas para não cair, para se fazer em frente naquela estrada distante.
Foi no dia que pegou suas coisas, subiu na caixa d'agua, levando as pedras que tinha apanhado na estradinha, uma vez quando dormia.
Difícil dizer alguma palavra premeditada para sempre, definitiva. Difícil ser real num mundo aparente. Sobretudo em dias sós em estradas de terras com pedras coloridas sobre os pés. No dia que se colocou a bolsa no ombro esquerdo, fazendo dois pontos na vida. Como se fosse dizer algo, sem travassão. Fluxo de consciência, seria isso? não não, monólogo interior, talvez. Quando na verdade, são os caminhos lentos de pedras coloridas passando em pouca velocidade olhando essas cores que eu gostaria que fossem; reais.