sábado, maio 20, 2006

.A imagem da retina.

A imagem da retina

Ela sorri.
Ou talvez não.
Num movimento de alçar os braços e de tentativa de proteger sua bolsa a mulher de cabelos compridos e pretos estava sendo assaltada dentro de um espaço público, onde deveria haver algum tipo de policiamento. O rapaz que tinha boa aparência para o século 21 disse que estava armado, mas ela não acreditou. Ele encostou em sua pele um revolver pequeno e frio. Ela sentiu em sua pele um brinquedo semelhante ao um que acabara de jogar fora, em função de uma bricadeira de mal gosto de seu filho de 4 anos.
A mulher não acreditou. Enquanto ele tentara arrancar seus braços a bolsa que continha, dinheiro, documentos e uma quantidade considerável de pó, já que voltara a consumir drogas desde que conseguira em experiência científica uma transformação atômica que a levava ao futuro, e sendo este o mais insorportável possível, ela agora se drogara.
Diante do quadro de Matisse, um com uma mulher com saia esvoaçante com rosto igual a todos os outros, a mulher recebeu um tiro a queima roupa e sua bolsa foi roubada. Não haviam muitas pessoas, e as que se encontravam no local se abaixaram. As câmeras locais não funcionavam de verdade eram só pra assustar futuros bandidos.
O Matisse era uma cópia, feita para aquele museu brilhando como quinta estrela meio a museus tão famosos. Mas o que ninguém suspeitava era que a retina de mulher do quadro fixa a última imagem que passa por sua frente quando acionada por barulho. A imagem do roubo, da mulher e do bandido, guardadas momentaneamente na retina de uma pintura impressionista com rosto igual, que sorri ou não, vestindo uma saia esvoaçante.


*escrito em 26 de março de 2006