terça-feira, abril 22, 2008

.as diarices sem fim.


Foto: Milena Marília
Agora vai!
Pega tua mala, enche de doçura e desconfiança. A pressa é lugar que não mais existe porque não há destino, não há tempo. Há o desconhecido do dia-a-dia, o cheiro de cada manhã que te promete, se deixas que te prometas, o que cada raio: quando bate nas poeiras que ta acordam quando te fazem espirrar três vezes - te tenta dizer.
No café procurei colocar nada mais doce do que o doce que já espero, mesmo que esse seja amargo quando não quero. A única maneira, dia-a-dia repito.
Já ouvi "não faça nada fazendo tudo". Já não ouvi mais, então, a televisão ligada, nem mesmo a máquina de lavar batendo roupa. Me desligei.
Meu telefone tocou. As vezes um pouco de lembrança faz nosso dia ser melhor, mais sorridente.
Chegei, não há ninguém. As vezes pouco de esquecimento te mostra o mundo que não esperas encontrar, nas palavras, nas sombras, nas ruas.
Notas de diarices me acompanham como se fossem nada. Mais não me saem, não saem de mim. Das quinhentas e setenta e cinco pedras que contei hoje, haviam três flores pelo chão. Pouca vida em meio de tanto meio inorgânico, mas não com menos vida. Vida em todo canto, vida em meu canto do banheiro, na laje quando vejo os carros que passam, ou no relógio tic-tac que me acorda, me traz de volta e me manda de novo pro chuveiro pra dizer que tenho que tomar café, escovar os dentes, e me permitir, sempre, todas as manhãs possiveis que se possa viver. Todas.