quinta-feira, junho 08, 2006

Pós Eon Fanerozóico


Boa Noite
Noite de Formatura....
Mais uma turma está contribuindo com a classe de geólogos no Brasil hoje. Adentramos na vida após-graduação onde cada um tomará seu caminho.

Quem não se lembra da etapa passada, onde nosso objetivo principal era o vestibular, a escolha da profissão que seguiríamos em caminhada durante a vida. Decisão tão importante que por conta de pouca idade, e imaturidade muitos foram ficando ao longo do caminho.

A caminhada até aqui foi difícil. Durante esses cinco ou mais anos muitos fatos importantes ocorreram, no mundo, em nossas vidas e o mais importante, as mudanças dentro de cada um de nós.

No mundo vimos ano após ano o vai e vem no mercado financeiro, a subida do preço do petróleo, os desastres naturais, as mudanças de governo, guerras, indignação popular e poder popular.

Em nossas vidas as mudanças são reflexos das mudanças em nós mesmo. Após cinco anos as mudanças externas como nossos cabelos longos e que mudaram de cor, refletem metaforicamente no nosso crescimento como pessoa, no amadurecimento para tomada de decisões e na mudança de postura diante da vida.

Em cinco anos perdemos muito. Pessoas se foram de nossas vidas, brigamos com amigos, mas nessas perdas o importante é ter os ombros que nessas horas suportam o mundo, e que são nossos familiares e laços de amizade construídos inclusive nessa caminhada de cinco anos. Perdermos momentos importantes, pelo fato de ter que estudar desesperadamente para a prova do dia seguinte. Mas tal sacrifício nada em vão. É preciso ter foco pra vencer, preciso abdicar, preciso ceder e ter sapiência nesses momentos, ter consciências que é tudo em prol de um objetivo maior, objetivo esse alcançado com muito êxito hoje nessa cerimônia.

Ganhamos muitas coisas também, crianças nasceram, ganhamos amigos queridos e lembranças, as mais agradáveis são certamente das viagens de congresso, da programação cultural noturna, da bagunça no quarto de hotel, dos paezinhos do café da manhã enrolados discretamente em guardanapos pra tentar economizar o dinheiro do lanche. Lembranças da rotina e do cotidiano são as divisões do pf, a companhia que nos fez ter menos fome na gigante fila do RU. E nas matérias de relatório...quem nunca virou a madrugada com sua equipe? Estranhamentos nesse momentos são presentes, brigas ocorreram por causa de trabalho de campo, mas sempre tudo bem resolvido, para então ser selado com um companheirismo verdadeiro, com a divisão de angústias na prova de Depósitos, com o desespero de estudar pra prova do Caputo, com o terror de fazer duas petrologias ao mesmo tempo. Dividimos também a alegria do primeiro dia de campo, a euforia da viagem, a preocupação de nossos pais no momento de nossa partida de madrugada no pão de forma. Quem nunca surtou em campo sob aquele sol, de meio-dia?,ou no final da jornada de trabalho se refrescou com o rio na sua área? Quem nunca falou uma besteira memorável em campo que atire a primeira pedra...pedra não..rocha, pois segundo os professores da sedimentologia, incluindo o Suguio e o paredão de afloramento, após reconstruir a origem daquele sedimento e entender a aventura percorrida até formar aqueles estratos sedimentares a simples pedra se transforma em rocha.

Muitos mestres passaram durante esse cinco anos, alguns de carisma indiscutível, e com grande preocupação se estávamos entendendo a matéria ou não. Outros nem tanto, mas todos possuem sua parcela de contribuição pra nossa formação. Alguns professores se tornam mais próximos de cada um de nós, em virtude de uma bolsa de iniciação científica, ou de uma monitoria, ou ainda por uma orientação de tcc. Cada um com seu jeito, com seu trejeito e com sua maneira de conseguir repassar a informação geológica da melhor maneira possível, e sem medir esforços de nos mandar refazer aquele relatório no mínimo 5 vezes.

Algumas histórias são impossíveis de não serem lembradas, como as das melancias toda vez que éramos matriculados, ou da geração Xuxa, lembrando in memorian do professor Nilson.

O jeito de cada um dos colegas também fica registrado na memória. Desde os mais maluquinhos, aos que se estressam com facilidade, os mais calados, os do contra, os quietinhos, os tagarelas, os impulsivos, os brigões, os solidários, os mais carismáticos e ainda os determinados que vieram até de bicicleta. E nessa soma de diferenças que cada um a seu modo conquista um espaço em nossas lembranças e coração.
A muitos devemos agradecer, aos que são religiosos, agradecem sempre a Deus em primeiro lugar.

Agradecemos também aos nossos pais, tão batalhadores e confiantes em nós. Foram os que depositaram todos os seus esforços, nos ensinaram a ter caráter, dignidade, integridade. Foram os que puxaram a orelha, os que tiveram pulso nos momentos difíceis do curso, os que nos colocaram no colo quando choramos por nossa primeira reprovação. Enfim nosso suporte pessoal, financeiro e moral, que será certamente recompensado. Pois toda essa batalha foi em prol de nossos estudos, de uma vida melhor num mundo onde só se vence com muito estudo. Hoje após cinco anos, nossos pais se formam junto conosco e esse orgulho que eles sentem de ver o filho completar essa etapa é indescritível, porém exposto nos seus olhos, sem uma palavra.
Nossos mestres também merecem homenagens, já que tiveram que bater na nossa cabeça com martelo de geólogo e utilizar bem a mira da bússula pra poder nos orientar a subir na mais alta torre de petróleo, para poder compreender a formação e os processos desse planeta que habitamos. Acima de tudo os bons exemplos de profissionais devem ser seguidos. Somos geólogos agora. E com o título de bacharel temos a responsabilidade de exercer a profissão de maneira ética, disciplinada com responsabilidade e muita honestidade.
Desses formandos hoje, alguns vão seguir a carreira acadêmica, outros a geologia clássica, alguns serão concursados, e outros debandaram para áreas de fronteiras, áreas interdisciplinares e lutaram por seu espaço. Uns irão ainda buscar descobrir qual a sua contribuição na sociedade, qual o seu papel social, e se perguntar o que como geólogo pode-se fazer pra melhorar o mundo. Não devemos ser apenas mais um no mercado, devemos fazer a diferença, contribuir, engrandecer e procurar fazer o melhor possível, sempre com criatividade e respeitando o próximo.
Encerramos então esse discurso, assim como mais um ciclo de nossas vidas, que não foi o último, tampouco o primeiro, mas que com certeza irá ser lembrado no resto de nossas vidas e nos fará deixar de ser quem éramos pra nos tornamos quem somos.